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Setor agropecuário: análise da produção de mandioca

Publicado: Segunda, 09 de Junho de 2025, 16h32 | Última atualização em Terça, 24 de Junho de 2025, 13h20 | Acessos: 51

Emílio Mendes

Laísa Cordeiro

A mandioca (também conhecida como macaxeira ou aipim) é um item essencial na cesta básica das famílias, estando entre os 10 produtos de maior demanda por consumo das famílias no Pará, chegando ao valor de R$ 3.021 milhões em 2017 (Fapespa/Unifesspa, 2023), cultivada predominantemente pela agricultura familiar no estado do Pará, conforme os dados do censo agropecuário (2017). Além de ser um alimento de subsistência, consumido tanto por humanos quanto por animais, ela também é matéria-prima para a indústria. Seu processamento resulta principalmente em farinha, enquanto uma parcela é destinada à extração de fécula (CLAUDINO, 2020).

Sobre a discussão referente a essencialidade da mandioca na cesta básica das famílias, o LAINC (Laboratório de Inflação e Custo e Vida de Marabá) elaborou uma metodologia de análise, fazendo uso da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que possibilitou estabelecer a Cesta Básica de Consumo Familiar para o município de Marabá, dentre os produtos está a mandioca. Para saber mais, acessar: https://laincmaraba.unifesspa.edu.br/disciplinas.html.

Embora faça parte dos produtos que compõem a cesta básica das famílias no estado, a produção de mandioca também é um produto da pauta de exportação interestadual. Conforme os dados da TRU - Pará de 2017 (Fapespa/Unifesspa, 2023) este produto está entre os 10 produtos de maior exportação interestadual com um valor de cerca de R$1.062 milhão exportado em 2017.

Segundo os dados do IBGE entre os anos 2000 e 2022 o valor da produção da mandioca no Pará teve algumas oscilações, mas apresentou um crescimento que merece destaque, principalmente a partir de 2020, como pode ser visto no gráfico a seguir. O gráfico traz as informações do valor da produção para o estado do Pará e para o Sudeste paraense, como pode ser visto a produção camponesa e patronal segue o mesmo padrão, porém com uma produção mais concentrada na agricultura camponesa.

Para se obter o valor da produção desagregado em familiar e patronal, nos anos apresentados, utilizou-se do censo agropecuário de 2006 e 2017 e dados das pesquisas estruturantes. A partir dos dados dos censos foi feito um exercício de parametrização, olhando a proporção da produção destes censos e distribuindo para os outros anos, com base nos dados das pesquisas estruturantes.

Gráfico 1 - Evolução do valor de produção da mandioca.

grafico 1

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE.

A mandioca se adapta a diferentes tipos de solos e climas, portanto, não é necessário muitos insumos e tecnologia, isso a torna ideal para o cultivo familiar. Possuindo uma diversidade de uso, podendo ser consumida in natura; transformada em farinha; fécula; bem como o seu uso como insumo para a produção de outros itens de consumo, possibilitando uma maior segurança alimentar, ao considerar como um alimento básico para muitas famílias no Brasil (LANDAU; SILVA; ROCHA, 2018).

Considerando os anos 2000 – 2022, na tabela abaixo é possível observar quais foram os 5 anos em que se tiveram os maiores valores de produção da mandioca na produção da agricultura camponesa para o estado do Pará e para a região de Carajás, um recorte do Sudeste paraense que pode ser observado no mapa abaixo.

Tabela 1 - Maiores valores de produção em função da agricultura familiar (em milhões)

Ano

Pará

Ano

Região de Carajás

2022

5,04

2022

0,74

2021

4,32

2021

0,62

2013

3,51

2017

0,55

2020

3,46

2016

0,50

2016

3,07

2020

0,47

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE.

Cultivada como um dos principais produtos da lavoura temporária da região, a mandioca é essencial tanto para o sustento das famílias quanto para o abastecimento dos mercados regionais. Estudando a produção camponesa em um Projeto de Assentamento (PA), Claudino (2020) aponta que parte da produção é utilizada para a subsistência do núcleo familiar e outra parte é destinada à venda, para que possa ter acesso aos produtos industrializados não produzidos em suas propriedades.

No estado do Pará, a agricultura camponesa predomina na produção de mandioca. Quando realizado o recorte de análise para a sua mesorregião, do sudeste paraense, observa-se que este padrão também permanece. O gráfico a seguir evidencia a expressiva diferença entre o modo de produção camponês e o patronal da mesorregião. Esse contraste ressalta a importância da mandioca para a economia rural local, na qual os pequenos produtores desempenham um papel fundamental. O gráfico possibilita não apenas a visualização da diferença entre os valores de produção da agricultura camponesa e patronal, mas também a possibilidade de refletir sobre a importância dessa produção como uma fonte de renda para o agricultor camponês.

Gráfico 2 - Comparação entre a produção da agricultura camponesa e patronal

grafico 2

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE.

O mapa abaixo reforça as informações do gráfico apresentado. Por meio dele pode-se visualizar os municípios da região de Carajás, um recorte territorial do sudeste paraense, formado por 32 municípios, em que a produção de mandioca é predominantemente da produção camponesa. Dos 32 municípios da Região de Carajás, 26 apresentaram predominância da produção campesina na cultura da mandioca, os outros 6 municípios constaram como não identificados, isto ocorreu em função da metodologia adotada pelo IBGE, que visa a não identificação da propriedade/produtor.

Neste sentido, algumas hipóteses podem ser levantadas quanto aos municípios que não foi possível identificar a predominância da produção de mandioca. Nos municípios de Sapucaia, Palestina do Pará, Rio Maria, Bannach, Cumaru do Norte e Pau D’arco, não identificados, não há produção de mandioca; a produção de mandioca se concentra em poucos produtores; a quantidade produzida, logo, o valor da produção é baixo, o que poderia ocasionar na identificação dos produtores.

Todavia, ao analisar os valores da produção da atividade das lavouras temporárias, em que a mandioca faz parte, em Palestina e Pau D’arco há a predominância da agricultura camponesa. Em Cumaru do Norte e Rio Maria a predominância é da produção patronal e Sapucaia e Bannach não foi possível identificar. Como última hipótese, a não identificação desses municípios se daria em função do seu contingente populacional ser pequeno, conforme os dados do IBGE, o que levaria a identificação dos produtores, caso tenha produção.

Mapa 1 – Forma de produção predominante da mandioca em função do VBP em 2017

MAPA 1

Fonte: Elaborado com base nos dados do IBGE.

Considerações Finais

Os dados apresentados contribuem para evidenciar a importância dessa produção para os pequenos agricultores, que encontraram na mandioca, além de um alimento de subsistência, uma fonte para geração de renda. Vale ressaltar também que, devido a sua diversidade alimentar, indo desde o consumo in natura até pratos mais elaborados, a mandioca é um alimento que alcança os vários níveis de camada social, porém a sua produção, como pode ser observado nos dados, se faz relevante entre as camadas mais pobres, ao considerar que os agricultores camponeses estão nesta camada.

A partir disso, cria-se possibilidades de reflexões e análises sobre a forma de produção deste produto, tais como fatores do aumento da demanda; da valorização no setor agrícola; do custo de produção nos últimos anos e os incentivos por meio de políticas públicas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que podem ter influenciado no aumento do valor de produção da mandioca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CLAUDINO, Livio Sergio Dias. “A divisão social do trabalho familiar nas atividades de produção de farinha de mandioca na comunidade Santa Ana, nordeste Paraense, Amazônia brasileira”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, 2020.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Censo Agropecuário. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 23 mar. 2025.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Pesquisa Agrícola Municipal. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 23 mar. 2025.

LANDAU, Elena Charlotte; SILVA, Gilma Alves da; ROCHA, Michele Silva. Evolução da Produção de Mandioca (Manihot esculenta, Euphorbiaceae). In: Dinâmica da Produção Agropecuária e da Paisagem Natural no Brasil nas Últimas Décadas. IBGE, FAO, Embrapa, Fundação Getúlio Vargas, 2018.

TRU – Tabelas de Recursos e Usos do Pará 2017 / (Orgs.) Giliad de Souza Silva [et al.], UNIFESPA; Diretoria de Estatística e de Tecnologia e Gestão da Informação (FAPESPA) Belém, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23291702

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