DISCUTINDO EMERGÊNCIA CLIMÁTICA E O LUGAR DA PAN-AMAZÔNIA PARA O FUTURO, A XXIX EDIÇÃO DO ENEP ENCERRA COM ÊXITO NESTA SEXTA-FEIRA (14), EM MARABÁ
Com 120 artigos aprovados e a vinda de professores e discentes de diferentes universidades do Brasil, o XXIX Encontro Nacional de Economia Política movimentou a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) na última semana. No total, mais de 200 pessoas realizaram o credenciamento e participaram do maior congresso de Economia Política do Brasil, organizado, anualmente, pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP). Nesta edição, a primeira que acontece na região Norte do país, por iniciativa e dedicação da equipe de docentes da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), que, engajados, trouxeram o encontro à Marabá, e, assim, mobilizando uma grande equipe de discentes, docentes e Técnicos Administrativos (TAE´S) para compor a Comissão Organizadora Local (COL), tornaram possível a realização do XXIX Enep.
Um destaque entre a COL, estão os bolsistas do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam), que durante três meses, estiveram engajados e presentes em todo o processo de construção para receber o evento. Além da mobilização da equipe do Lacam neste processo, estiveram também outros discentes da Face e de outras faculdades da Unifesspa. Divididos em comissões, trabalharam antes e durante todo o evento no suporte e organização, por isso, também são responsáveis pelo sucesso da vigésima nona edição do Enep. Além disso, foi a COL quem pautou e assumiu as vivências de campo, denominadas de ‘pré-enep’, que aconteceram na segunda e terça-feira, percorrendo Territórios Indígenas (Mãe Maria), iniciativa de preservação ambiental (Projeto Quelônios) e processos de fronteira educacional construído pelos movimentos sociais (visita ao Instituto Federal do Pará - campus rural, localizado no Assentamento 26 de Março – MST).
Outro diferencial do XXIX Enep foram as intervenções culturais que integraram todo o evento de maneira transversal: na terça-feira, para iniciar as sessões especiais, a Mostra de Arte Urgências - em parceria com a Faculdade de Artes Visuais (FAV) e com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - foi inaugurada no hall do bloco central da Unidade III, além de música ao vivo com Letícia Portela para o primeiro dia de credenciamento do evento. Na quarta-feira, durante a solenidade de abertura, uma mística foi realizada por parte dos integrantes da COL, em parceria, também, com o MST, que têm estes momentos como fundamentais na construção dos espaços de formação. Em ritmo junino, a noite cultural foi o ‘Arraial Cabano’, na Fundação Cabanagem, ao som de forró com Charles do Arraia e banda, além de apresentação de quadrilha junina local.
Como encerramento, a sala de cinema instalada no espaço do evento, exibe duas produções que dialogam com o tema central do evento: o documentário Arpilleiras - Mulheres em luta bordando a resistência, produzido pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a série documental Transamazônica Utopias na Selva, do diretor Luiz Arnaldo Campos, gentilmente cedida pela produtora Floresta Vídeos. Para o professor Giliad Silva (Face - Unifesspa), e integrante da SEP, após “saldar” a dívida histórica da sociedade com a região Norte, essa edição do evento deixa diversos aprendizados à Sociedade Brasileira de Economia Política, entre eles, é que a produção científica não está indissociada da prática, por isso a importância das vivências de campo, fundamentais no processo de ensino-aprendizagem. Outro aprendizado, foram as expressões culturais que atravessaram toda a programação, essenciais no processo de fazer ciência na Amazônia, com música e poesia pulsantes, legado dos movimentos sociais, além da participação de comunidades tradicionais no evento, nas mesas, como sujeitos que também constroem a Unifesspa cotidianamente.
É válido destacar, ainda, que a comissão de cultura foi coordenada por Claudiana Guido, produtora cultural e TAE na Unifesspa. Para ela, a programação cultural não poderia ser parte distante do evento, e sim dialogar com a temática central do XXIX Enep: “Capital na berlinda, emergência climática e o lugar da pan-amazônia no futuro da humanidade”. Nessa perspectiva, a escolha das artes e dos filmes foi pensando nos desafios da fronteira e na questão amazônida. “É importante destacar que a equipe de cultura foi multidisciplinar, além da participação do MST e da integração com o Instituto de Linguística, Letras e Artes (ILLA), também da Unifesspa. O nosso cuidado em montar os momentos de cultura teve o objetivo de dialogar com a temática do evento”, ressalta Claudiana.
A programação tradicional do evento teve início na quarta-feira (12), com minicursos, paineis de debate e a solenidade de abertura com autoridades importantes na construção do XXIX Enep. Na quinta-feira (13), iniciaram as sessões de comunicação e sessões ordinárias de apresentação dos 120 artigos submetidos e aprovados nesta edição do Enep, além de mais paineis de debate sobre a região e desafios enfrentados na fronteira, com o avanço de atividades exploradoras, como a mineração e o agronegócio.
Paulo Nakatani, professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP), participa do Encontro Nacional de Economia Política há 29 anos, desde a sua concepção. Nesta edição, a primeira na região Norte, o professor participou de toda a programação e dá destaque às vivências de campo: “Na história da SEP, nós nunca tivemos possibilidade de ter acesso próximo aos grupos. Nós já tivemos parceria com o MST, colaboramos com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e em algumas articulações do Enep, tivemos algumas experiências, mas é diferente dessa que nós tivemos aqui em Marabá de ir a campo, que foi fundamental para conhecermos as comunidades tradicionais da região Norte que lutam cotidianamente em defesa do seu território e da sua cultura”, declara.
Tradicionalmente, faz parte das programações anuais do Enep, um momento de assembleia na modalidade presencial com todos os integrantes da SEP e aberta ao público. Neste ano, a assembleia ocorreu em meio aos paineis e sessões de comunicação, na tarde de quinta-feira (13). A presidente da SEP, Marisa Amaral, professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), conduziu a assembleia da SEP e entende como “um acerto” a XXIX edição do Enep acontecer em Marabá, destacando a importância das vivências de campo e parabenizando a Comissão Organizadora Local pela condução do evento. No ponto de avaliação do XXIX Enep durante a assembleia, a COL foi aplaudida de pé por todos os participantes, como expressão de reconhecimento pelo trabalho árduo de conduzir o maior congresso de economia política do país neste ano de 2024.
Ana Maria Tigre é egressa do curso de Ciências Econômicas da Unifesspa. Atualmente, mestranda no programa de pós-graduação em desenvolvimento econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam). Para a discente, é um prazer retornar a Unifesspa, local onde se formou, para participar do encontro que reúne pesquisadores importantes do campo da economia política. “Eu apresentei um trabalho na mesa “Pesquisa econômica heterodoxa: pobreza multidimensional e índices de preço”, e é muito bom participar, com diversos colaboradores e apresentar as pesquisas que estamos desenvolvendo atualmente, além de ver e conhecer trabalhos de outros colegas que vieram a Marabá conhecer o nosso curso de economia que é recente, mas já alcança voos muito altos, trazer o Enep é um desses voos e representa um feito histórico à nossa Faculdade de Ciências Econômicas”, enfatiza Ana Maria.
A programação do XXIX Encontro Nacional de Economia Política continua nesta tarde, com as apresentações dos últimos artigos submetidos, além do painel "Futuro da Humanidade: construindo perspectivas a partir de experiências Pan-Amazônicas", que contará com Carlos Barrientos, do Comitê de Unidade Campesina (CUC) Guatemala, e Kátia Akrãtikatêjê (Cacica do povo Gavião Akrãtikatêjê / Pará), das 17h às 20h, que encerrará o evento, neste painel, a mediação da mesa é da professora Flávia Marinho Lisbôa, docente da Faculdade de Educação do Campo (Fecampo). O debate propõe para este encerramento um resgate de reflexões ancestrais com os povos indígenas, reforçando a importância da presença deles na instituição, construindo, juntos, uma educação emancipadora e que esteja na luta e na resistência pelos direitos e territórios dos povos tradicionais da região. Assim, o XXIX Enep cumpre a sua proposta neste ano de 2024 ao discutir, durante uma semana, a partir de sua temática central “O capital na berlinda, emergência climática e o lugar da pan-amazônia para o futuro da humanidade” um diálogo com a realidade local.
Texto: Laura Guido (Bolsista do Lacam)
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