ESTUDO DO LACAM ANALISA QUEDA NA INDUSTRIA NACIONAL
Fonte: Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE. Elaboração: Estudos Setoriais/Lacam.
A análise preliminar do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam) revela questões significativas sobre a perda de importância da indústria brasileira no Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o estudo, a indústria brasileira, que já chegou a representar 26% da riqueza do brasil em 2000, caiu para 22% em 2020. Esse é um problema já bastante conhecido pelos economistas como desindustrialização. A indústria de transformação é a que mais vem sofrendo nesse processo, já que saiu de uma participação de 15% para 11% entre os mesmos anos. Essa é uma parte importante da indústria total, porque ela reúne de forma geral empregos de qualidade e oferecem produtos ao mercado nacional, ao invés de serem comprados de outros países.
O professor Giliad Silva, economista da Universidade Federal do Pará, explica que existem alguns fatores que podem responder a perda de importância da indústria brasileira no PIB. Isto resulta no crescimento dos setores de comércio e serviços privados, cuja caraterística é gerar mais empregos comparativamente à indústria. “Na média, as atividades econômicas que puxam o comércio e serviço são atividades econômicas que exigem uma capacidade de produção mais baixa do que a indústria, logo, muito provavelmente essa economia que está perdendo participação industrial tende a ser uma economia que compra tecnologia e não necessariamente que produz e vende tecnologia”, destaca o professor Giliad Silva.
Outra hipótese que tem orientado a equipe de estudos setoriais, focada na indústria de transformação, é que, do ponto de vista da demanda, geralmente se gasta para adquirir as mercadorias produzidas pela oferta. A indústria é um exemplo disso: quando ela compra, está realizando investimentos, ampliando sua capacidade produtiva e incorporando mais máquinas. No entanto, quando a indústria perde participação na economia, a tendência é que suas próprias despesas diminuam em relação ao PIB, ou seja, os investimentos privados também caem proporcionalmente. “E, a partir disso, uma variável que pode aumentar é as exportações. Elas cresceram proporcionalmente em relação ao PIB, muito mais do que qualquer outra variável de demanda. As exportações, por exemplo, saíram de uma proporção de 4% em relação ao PIB no final dos anos 1980 para 16% em relação ao PIB, depois, um pouco mais de 20 anos. Então, de fato, foi um crescimento assustador das exportações. O que é uma das consequências identificadas pela redução da participação da indústria na economia”, conclui o professor Giliad Silva.
Além disso, durante os processos de análise do grupo de pesquisa, tem-se constatado que, no Brasil, a indústria representa aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Em comparação, quase 70% do PIB corresponde ao setor de comércio e serviços (públicos e privados), 4% à mineração e apenas 6% à agropecuária na economia nacional.
“São mais ricos os países que têm uma indústria de transformação muito forte, o que não é muito o nosso caso. Então, é comum que países pobres ou em desenvolvimento como o Brasil tenham uma participação grande do setor de serviços. Na pesquisa, temos identificado que a indústria de transformação do Brasil é muito frágil em termos de crescimento econômico porque concorre muito com produtos que vem da China, por exemplo. Assim, se o Brasil não consegue oferecer preços baratos e com boa qualidade, as pessoas recorrem a compra de produtos de outros países, seja através dos sites como Aliexpress, Shopee, ou até mesmo de produtos em lojas físicas que importam produtos de países como Paraguai, entre outros..”, explica o professor Jarbas Carneiro, responsável por esta linha de pesquisa do Lacam.
O ESTUDO - compõe a linha de Estudos Setoriais (que integra o Lacam), que tem o objetivo de estudar como os principais setores econômicos, Agropecuária, Indústria e Serviços contribuem cada um para a formação do PIB, que são todas as riquezas produzidas pelo Brasil em cada ano. Um setor que o grupo tem observado com especial atenção é a indústria, porque a sua força e importância econômica têm sido determinantes para os países mais ricos e influentes do mundo ao longo da história do capitalismo.
METODOLOGIA - a pesquisa utiliza os dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), especificamente da Pesquisa Industrial Anual (PIA), que faz parte do IBGE. Além disso, são usados indicadores do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Esses dados permitem verificar em quais setores as pessoas estão empregadas. Dessa forma, a pesquisa consegue obter informações diretamente da indústria de transformação.
(Laura Guido – Bolsista do Lacam)
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