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112 ANOS: A ECONOMIA MARABAENSE E OS DESAFIOS E CONTRADIÇÕES QUE A ATRAVESSAM

  • Publicado: Sexta, 04 de Abril de 2025, 14h25
  • Última atualização em Sexta, 04 de Abril de 2025, 15h37
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“Todo esse chamado ‘desenvolvimento’ e ‘progresso’ para uns é também responsável pelos conflitos e impactos na vida de outros”

Marabá se tornou  um dos principais pólos econômicos do Pará. Sua localização estratégica é um importante “nó” na infraestrutura logística e o peso dos setores agropecuário, mineral, industrial e de comércio e serviços garantem o destaque do município para o abastecimento de bens e serviços nessa porção do estado. Por outro lado, o município ainda depende fortemente da mineração, enfrenta a baixa industrialização e necessita de investimentos em urbanização e infraestrutura. Para garantir um desenvolvimento social e sustentável, especialistas afirmam que o município precisa não só diversificar e agregar valor às suas atividades econômicas, mas é urgente avançar no enfrentamento de violências de cunho social, étnico-racial, de gênero, bem como repensar as políticas econômicas que excluem/desincentivam práticas produtivas sustentáveis nos territórios, como aldeias, comunidades ribeirinha, projetos de assentamentos e outros.

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Marabá - Foto: Marco Santos/Agência Pará

 Todas essas questões estão envolvidas no crescimento econômico da cidade, que protagoniza índices preocupantes no extermínio da juventude negra e feminicídio, por exemplo, atrelados à política econômica adotada para a região amazònica, localizando Marabá em uma área de influência importante no estado, influência essa que se estende à porção leste-oeste da fronteira com o Maranhão e Tocantins até a divisa com Altamira e na porção sul-norte da fronteira com o Mato-Grosso e também até a altura de Tucuruí.  

Kupepramre Valdenilson Topramre, jovem liderança indígena Akrãtikatêjê, destaca que Marabá é conhecida por todo seu potencial econômico, como ponto de encontro da BR-222, PA-150, linhões de alta tensão da Eletronorte, Estrada de Ferro Carajás, grandes empreendimentos da mineração, do Agronegócio, mas que é preciso atentar para os impactos sociais e ambientais desses grandes empreendimentos. “Todo esse chamado ‘desenvolvimento’ e ‘progresso’ para uns é também responsável pelos conflitos e impactos na vida de outros, mais especificamente os ribeirinhos, os assentados da reforma agrária, os povos indígenas, entre outros. Um exemplo que eu trago é a própria Terra Indígena Mãe Maria, que é atingida pela BR-222, pela Eletronorte e pela Estrada de Ferro Carajás. Ainda tem o projeto de hidrovia que vai gerar grandes impactos ambientais e também para a população local. Anuncia-se que isso vai gerar impacto positivo na economia e desenvolvimento de Marabá. Mas e a população? Especialmente pensando a longo prazo, pois são impactos irreversíveis”, questiona Kupepramre, que também é discente da Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa. 

O município conta com rodovias federais e estaduais, com a Estrada de Ferro Carajás e com o aeroporto, que torna mais acessível a locomoção para outros centros urbanos. Além disso, há  plano para construir a Hidrovia Tocantins-Araguaia, cuja condição necessária é a derrocada do Pedral do Lourenço, o que vem protagonizado a luta de populações indígenas e ribeirinhas, diante dos impactos socioambientais se a hidrovia for construída. 

O professor de Economia da Unifesspa Lucas Rodrigues, ratifica que apesar da importância econômica de Marabá, a cidade enfrenta muitos desafios, como a implementação de infraestrutura e de urbanização. Com o rápido crescimento da cidade, a partir do impacto dos grandes projetos na região, isso passa a exigir investimentos contínuos em transporte, saneamento e habitação”. 

Nesse sentido é que ganham relevância na economia de Marabá as atividades de Construção Civil e Indústria de Transformação. O primeiro caso, que é responsável por mais de 10% das ocupações do município, se evidencia com o  crescimento constante da cidade, como as diversas obras públicas e privadas acontecendo simultaneamente. Já a indústria de transformação, relevante em Marabá, é de baixa complexidade, como, por exemplo, a produção de ferro-gusa, um material intermediário usado na fabricação de aço. Rodrigues destaca que essas indústrias têm lugar de relevância na economia local, mas não agregam muito valor aos produtos, limitando o crescimento industrial da cidade. 

Segundo ele, outras  atividades exercem um papel importante na economia do município, dentre elas estão o comércio local, restaurantes e serviços alimentícios, transportes e logística e serviços públicos, como educação e saúde. Para ter uma ideia, o setor de serviços é responsável por cerca de 40% da economia local. Já a agropecuária, que já foi um dos pilares da economia da cidade, perdeu espaço nas últimas décadas. Atualmente, o setor representa apenas 5% do valor adicionado da economia local, sendo que a pecuária bovina ainda se mantém como a atividade mais relevante.

IBGE Setor

Total

Partic. na Economia

1 - Extrativa mineral

3106

5,22%

2 - Indústria de transformação

6088

10,23%

3 - Servicos industriais de utilidade pública

337

0,57%

4 - Construção Civil

5222

8,77%

5 - Comércio

15832

26,59%

6 - Serviços

16660

27,99%

7 - Administração Pública

10827

18,19%

8 - Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca

1185

1,99%

9 - Ignorado

9

0,02%

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264

0,44%

Total

59530

100,00%

 Tabela – Estrutura da Economia de Marabá por Setor (IBGE)

 Problematizando o potencial mineral

Atualmente, Marabá tem uma produção mineral focada em cobre e manganês, ao contrário de cidades vizinhas como Parauapebas e Canaã dos Carajás, que se destacam pela extração de ferro. Mais de 99,5% da mineração de Marabá é cobre e o município estabeleceu uma forte dependência com esse setor da economia local. Nesse cenário, problematiza-se seus pontos negativos na respectiva economia marabaense.  

O coordenador do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam), Giliad Silva, destaca que “é importante levar em conta que mesmo essa atividade sendo relevante para o caso de valor adicionado no município de Marabá, para outras coisas ela tem um impacto muito baixo. É uma atividade significamente importante quando olhamos o caso do valor adicionado, mas quando voltamos o olhar para o caso dos empregos, ele não é tão significativo assim, pois ela é responsável por 5% de todas as ocupações existentes em Marabá”, enfatiza. Considerando como a mineração tem uma importância nacional,  o  professor Dr.  Lucas Rodrigues destaca outra problematização necessária ao setor:

“A mineração aqui no estado, no caso a boa parte dos insumos que ela consome, ela acaba trazendo de outros estados do Brasil ou importando para o resto do Mundo. Então, considerando o seu tamanho, ela impacta relativamente pouco a economia do estado, porque a demanda dela é suprida de outros locais e boa parte da renda que ela gera também não fica internalizado na região.” aponta Rodrigues, que ainda acrescenta:

“Ainda que o potencial do município e região detenha-se à exploração de recursos minerais, as cadeias de valor desse produto ainda é bastante limitado no município. Essa característica implica que grande parte da demanda por insumo do setor extrativo ‘vaze’ para outras regiões do país, ao mesmo tempo, a baixa capacidade de transformação desses minérios em produtos da indústria de transformação também limitam seu impacto na criação de renda e empregos”.  Nesse sentido, explica o professor, “a  baixa industrialização faz com que a maioria das matérias-primas extraídas sejam exportadas sem muito processamento, o que reduz o valor agregado dos produtos”.

Diante destas potencialidades, desafios e contradições em torno da mineração e outros grandes projetos econômicos que marcam a história da cidade, é notório que Marabá precisa avançar em planos estratégicos para garantir o desenvolvimento econômico diversificado e sustentável e, para além disso, é essencial que se problematize o discurso panfletário “progresso econômico”, historicamente posicionado na contramão de políticas ambientais e sociais que asseguram a preservação dos recursos naturais e o bem estar da população local, principalmente as comunidades indígenas e outros povos em diferentes territórios afetados por essa política econômica em curso na região.

 

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