INCÊNDIOS DE 2024 DEIXAM ALERTA PARA POSSÍVEIS REINCINDÊNCIAS DE QUEIMADAS NAS ALDEIAS NESTE ANO
2024 registra crescimento recorde das queimadas no Pará, expondo a destruição acelerada e a grave ameaça aos territórios indígenas.
O ano de 2024 marcou um dos cenários mais críticos da crise ambiental brasileira. Segundo dados do Monitor do Fogo, do projeto MapBiomas, mais de 30,8 milhões de hectares foram atingidos por queimadas entre janeiro e dezembro, um aumento de 79% em relação a 2023, com acréscimo de 13,6 milhões de hectares em apenas um ano. A espacialização dos focos evidencia o papel das ações humanas nas queimadas, com padrões recorrentes em áreas sob pressão do agronegócio, do garimpo e do desmatamento, sendo essa tendência ainda mais acentuada nas Terras Indígenas (TIs).
“2024 foi um ano bem prejudicial para a gente quando se fala em território. A gente nunca tinha passado por isso. Já tivemos alguns incidentes dentro da nossa TI, mas em 2022, uma aldeia foi completamente devastada pelo fogo, queimou todas as casas, que eram de palha, matou os animais, ficou tudo destruído”, relata Kokinire Haraxare, estudante de Artes Visuais da Unifesspa e morador da Terra Indígena Mãe Maria, do povo Gavião do Pará.
De acordo com levantamento da plataforma InfoAmazonia, com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre julho e setembro de 2024, as Terras Indígenas (TIs) da Amazônia registraram 8.164 focos de calor, o maior número em mais de duas décadas. Quase um terço desses focos estava próximo a rodovias, como na da Terra Indígena Mãe Maria, no sudeste do Pará.
De acordo com a série histórica do MapBiomas, a área queimada acumulada na Terra Indígena Xikrin do Cateté passou de 5,9 mil hectares em 2006 para mais de 57 mil hectares em 2023. Embora o avanço tenha ocorrido de forma gradual ao longo das décadas, a aceleração do desmatamento e das queimadas se intensificou a partir daquele ano. Em 2017, no território foi registrado em um único ano 31,9 mil hectares queimados, a maior marca até então, como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 1: Área queimada acumulada na TI Xinkrin do Cateté (2010-2023).
Fonte: MapBiomas Fogo
Do total de queimadas no Brasil, 73% era vegetação nativa, com destaque para as formações florestais, que responderam por 25% da área afetada. Já entre os usos agropecuários, as pastagens foram as mais impactadas, totalizando 6,7 milhões de hectares queimados.
A Amazônia concentrou a maior parte da área destruída por queimadas, com o estado do Pará liderando o ranking nacional, com 7,3 milhões de hectares queimados, o que representa 24% do total registrado no país. No estado, municípios como São Félix do Xingu, Altamira, Novo Progresso e Itaituba estão entre os mais afetados, conforme mostra o gráfico abaixo.
Gráfico 2: Ranking dos 10 municípios com mais focos de queimada no Brasil (2024)
Fonte: Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe).
Ou seja, dos dez municípios mais devastados pelas queimadas em 2024, quatro estão localizados no Pará, um dado que acende um alerta para a necessidade de medidas preventivas eficazes, a fim de evitar que esse cenário se repita com a chegada do período de seca.
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